Não há nada do outro lado, procuro em vão uma linha que ligue a um horizonte longínquo, algo a que me agarrar para não sucumbir. Estas águas já não reflectem o rosto, desvaneceu-se na atmosfera, perdeu-se na escuridao. Os remos que levavam este barco a bom porto quebraram-se e o céu e a terra separam-se para sempre dando lugar a um deserto sem estrelas. Diziam que era o local mais bonito para vê-las, mas se até os seres mais frágeis desapareceram, não há razão para acreditar que ainda se conseguem ver as estrelas. Quando muito as do mar e essas merecem ser preservadas. Uma coisa é certa não houve por do sol mais belo que aquele, do cimo de uma rocha. Fazia frio, muito frio, mas por uma imagem como aquela valia a pena nem que fosse por um segundo. Os dias nunca eram iguais, só eu era sempre a mesma. Mas isso mudou e quando se mexe no passado ou no presente não há volta atrás, só restam pedaços desordenados de um puzzle que nunca poderá completar-se porque agora os dias são todos iguais e, como se sabe, não há peças iguais num puzzle, cada uma delas ocupa um espaço concreto. Mesmo que se tente buscar um sentido, a verdade é que o tempo se reflecte num espelho que se quebrou e onde nunca mais quem inventou o sorriso o poderá utilizar para mostrar o que era antes, só o que resta desse rosto que já não é meu.

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